sábado, 5 de outubro de 2013

Único caminho


Há duas formas de entender a história,
Há duas formas de ajustar a mente.
Ou você pode acreditar nos fados,
Acreditar que tudo está no trilho,
Ou você pode debandar de lado,
E acreditar que o mundo pede auxílio,
E alimentar-se em fé renovatória:
Das duas, uma: ou marionete, ou gente.

Se você quer do igual sempre a vitória,
De um ego cego que só segue em frente,
Seu mundo fica pré-determinado,
Sem horizonte, ascende um sol sem brilho.
Mas se do idílio está desenganado,
Se você crê que o ego é um empecilho,
Você se afasta da verve ilusória.
Destrói disfarces imediatamente.

Das duas formas desse estar no mundo,
Entre a quimera e o esforço de ser pleno,
Apenas uma vale o próprio custo:
A escolha é decisão definitiva.
Quem semear com seu querer profundo,
Quem mantiver seu coração sereno,
Verá passados e amanhãs sem susto:
Florescerá da própria iniciativa.

Existe humanidade além da dor,
Além do engano e além da solidão,
Quando o alienado aprende a ser ator.
A escolha é sempre mais que um sim ou não.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Até aprender


Tanta coisa já escrevi
Sobre momentos nos quais
Não sabia como agir,

Que achei que, passados os anos,

Lendo tudo o que escrevera,
Melhoraria meus planos.

Mas não foi dessa maneira:

Escrevo de novo esta vez
Como escrevesse a primeira,

Sempre perdido no mapa,

Sempre impulsivo e poeta,
Sempre dando a cara a tapa.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Bonito


Se eu pego as coisas em que acredito
E somo às coisas em que não acredito,
Empata.

Mas nem por isso eu sussurro. Eu grito.
No muro da vergonha estava escrito:

"É a dúvida que mata".

Os cães ladram;

Segue em frente a passeata.

Amparador


Não vou tratar com nojo e resistência
O monstro que se move à minha frente.
Eu sei que existe um modo diferente
De compreender o fel de sua essência.

Não vou deixar que o preconceito vença
E o mal da maioria me frequente.
Eu quero o entendimento do doente
Bem mais que o apontamento da doença.

E se o doente agride meus sentidos,
E agride a mim, porque, despreparado,
Não sei lidar com óbices reais,

Abraço essa agressão como um pedido,
Entrego o ouro meu todo ao bandido,

Desarmo o monstro, e não há monstro mais!

sábado, 6 de julho de 2013

Vacinado


Ouvindo música de verdade,
Pensando no que tem substância,
Sustento na mente pujança
De antídotos contra saudade.

Não permito ao medo que me invade
Encontrar parceiro para dança:
Fio-me na noite, que é criança;
Chamo de presente a liberdade.

E quando o impulso negado volta,
Abalando juras e certezas,
E a mão da mão da firmeza solta,
Invisto em outras formas de beleza:

Paixão se combate com paixão,
Que pode ser de carne e osso ou não.

Galardão


O militar tem o exército.
E todo bem treinado exército
Tem como prêmio: mais exercício.

O mentiroso tem o mérito
E toda líquida unanimidade de seu mérito
Tem como prêmio: meretrício.

O homem normal tem o veto.
E todo autoflagelante veto
Tem como prêmio um vício.

Arrebol


Na tarde de um dia estranho,
Quando alguém lembra de mim,
Não vem nenhum sinal.

E eu lembro de dada pessoa,
Ex-banho de politonia
Nas tardes de um dia normal.