quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O caminho


Ah! Tanta beleza
é possível ver!
É possível haver tanta beleza
quando estou sozinho?
Fragmentos de beleza
no deserto do caminho
servem pra quê?

Ah! Tanta certeza
é possível ter!
É possível manter tanta certeza
quando estou sozinho?
Rudimentos de certeza
no infinito do caminho
servem pra quê?


Ah! Que fortaleza
que é possível ser!
É possível descer da fortaleza
quando estou sozinho?
Nas cavernas da tristeza,
esconder-se do caminho
serve pra quê?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cozinhando

Mente vazia,
panela do dia.

Mente inda rasa,
panela na brasa.

Mente preenchida,
panela e comida.

Mente perfeita,
panela e receita.

Fórmula

Politicamente correto = politicamente discreto = politicamente secreto.

Discussão + respeito + afeto + público + laico + aberto + tesão transbordando pelo teto
= concreta condição (ou papo reto).

Politicamente concreto.

Parecer

Os grandes poetas
fazem a poesia
parecer poesia.

A leitura dos grandes poetas
faz poesia como a minha
parecer certas vezes poesia
de grandes poetas.

E a minha leitura dos grandes poetas
faz parecer
que alguém já fez um dia
poesia como a minha
acontecer.

domingo, 15 de maio de 2011

Gente diferenciada

Um lugar é sempre um nada
definido pelo tudo
que chamamos conteúdo,
perfazendo uma área dada.

Um lugar, quando é de gente,
é uma área condenada
a abrigar regularmente
gente diferenciada.

terça-feira, 22 de março de 2011

Ambições

Sonho poder produzir
saberes pregnados de poesia,
suores pugnados pelo justo.

Sonho poder produzir
amuletos com magia eficiente,
ampulhetas com mais tempo que o da vida.

Sonho poder produzir
édenes sem tíquetes de entrada,
bálsamos sem sangue de cobaias.

Sonho poder produzir
palavras mais belas que o silêncio,
belezas mais silentes que a palavra.

domingo, 13 de março de 2011

Luz e falta

É hora de morrer e a luz me falta.
Onde estão os dons prometidos?
Que é da recompensa pelos martírios na longa estrada?
Escuridão e pavor, silêncio e desesperança
afluem do infinito, em peso ardente
e a consciência se dilui, a não ser

pela expectativa de que a Sábia Providência
- compreendendo o poder do sim na sala negativa
a que se referia o poeta, e também a necessária alegria
que precisa revestir essa passagem, a surpresa
do sentir-se perto do nada e, de repente,
integrar-se a um brilho que é mais que vida -
conceda um galardão final ao cavaleiro em queda:

pela expectativa de que a luz venha,
não a das purpurinas das asas dos anjinhos,
mas a que era exclusividade dos teus olhos
quando eu fazia cócegas na tua barriga
e uma voz me dizia que me amava,
e eu me sabia eternamente perdoado.