As estrelas se apagam,
Mas seu brilho perdura,
E nós nos desintegramos
Antes de poder atingi-las.
Para conhecer as estrelas
É preciso observá-las
No movimento e na luz
Que garatujam no firmamento.
É preciso ganhar as técnicas
E instruções do bem observar.
Depois, entregar-se à solidão
E à diligência, silentes.
E então, precisamos distinguir
Os brilhos das estrelas dos efêmeros,
Que cruzam o alcance das lentes
Mas não grudam no céu.
Depois ainda, interpretar luzes, saber
Quais vozes na diferença de cores
Indicam sangue e DNA
De astros genuínos.
E ainda mais, precisamos
Perseverar na vigilância
Para confirmar o estatuto estelar
Dessas pérolas incandescentes.
E mesmo com todo esse esforço
E disciplina, sempre nos foge
Algo do caráter das estrelas
Pelas frestas de nosso olhar.
Até que se apaguem, portanto,
As estrelas que estudamos,
Devemos garantir que olhares novos
Descrevam com mais capricho suas
luzes.
O sentido desta vida, devemo-lo
À causa dessas estrelas,
Paradas na nossa percepção
E velozes nas transformações de seus
sinais.
Por tudo isso, sustentarei, ao
caminhar
Com pés na areia e olhos nas nuvens
Que as vozes de Dante, Shakespeare,
Cervantes,
Camões, Pessoa, Mallarmé,
Os sons de Mozart, de Bach,
As formas e sombras de Goya e
Rembrandt
São trilha e aquarela desse cosmos
Que ainda brilhará quando eu me for.
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