segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Chacoalhão

Eu estava preparado para apagar o pavio
e deixar correr as esperança num rio
que rasgasse a escuridão nalgum ponto.

Eu estava reclamando do Brasil,
com a fleuma de quem quase desistiu,
e os argumentos de um mimadinho tonto.

Eu estava querendo mandar tudo para a puta que o pariu,
quando um baque, um dilacerante assovio,
sequestrou meus sentidos de sopetão,

pedaços de solidão crestaram-se no vazio,
o trom da torre de marfim a sucumbir o cosmo ouviu:
teu amor dinamitou meu coração.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Antes de pedir sua intervenção

Eu sei que você me ama;
então, só peço socorro
se estou em real perigo.
Para ser abusado,
tenho um monte de amigo
calejado.

O desespero de amor é sagrado
e quase proibido.
É a força que move mares
quando tudo está perdido.

É um poder que não tem limites
porque, no fundo, não tem sentido.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mundos

Quando eu olho para o mundo cão,
viro bicho e fico sem razão.

Quando eu oro por um mundo são,
peço a Deus que espalhe compaixão.

Quando eu ouço sobre o mundo além,
deixo a alma se embeber de bem.

Quando eu ando no mundo real,
tenho orgulho de ser anormal.

domingo, 25 de julho de 2010

O acaso não vai me proteger

Corolário, intuição? Convicção, déja vú?
Fatalidade, acidentário? Previsibilidade, bidu?

Como eu gostaria de dizer
que a bola de cristal bateu na trave,
no último dos segundos do segundo tempo!

Mas, ai!, que o juiz é ladino
no jogo jogado da vida.
Não tem mão de Deus no destino,
e nunca tem bola perdida.

domingo, 16 de maio de 2010

Papéis

O papel do meliante é incomodar você
e mais nada.
O papel do professor é corrigir você
e mais nada.
O papel do militar é controlar você
e mais nada.
O papel do jornalista é convencer você
e mais nada.
O papel do vendedor é alcançar você
e mais nada.
O papel do balconista é conquistar você
e mais nada.

Lugar de balconista
é atrás do balcão.
Lugar de vendedor
é atrás de você.
Lugar de jornalista
é no QG da redação.
Lugar de militar
é no QG.
Lugar de professor
é na sala de aula.
Lugar de meliante
é na jaula.

O papel do papel é limitar você.
Mais nada.

Lugar de papel
é no lixo.

Dom

Vejo o que está evidente,
não vejo o que estará.
Vejo o que o fígado sente
e o que o olho mandar,
mas perco o que a brisa me dá
de presente.

Somos todos médicos-loucos,
mas autênticos cegos-videntes
há poucos.

Apelo

Quando duas,
três,
quatro,
quinze,
quatrocentas pessoas
tiverem chama,
chamarão isso de turma,
de trama,
de turba.


Quando
um,
um milhar,
um milhão,
um bilhão de pessoas,
tendo aquela chama,
clamarem por transformação,
aquilo que chamam de turba
chamarão de turbilhão.