sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Sete de setembro
Com tantos
irresponsáveis pelo mundo,
ser responsável pelo mundo
parece pura ficção.
No entanto,
pondero a coisa noutro nível:
respondo, amável, que é possível
que o nosso mundo fique são.
E eu tampo
meus sãos ouvidos ao cinismo,
à hipocrisia e ao pessimismo
dessa galera sem noção
e encampo
nesta canção de amor gigante
a decisão de ir adiante
no meu projeto de nação.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Demeritocracia
Se esse rapaz continuar policiando seus impulsos
quando a fatia mais grossa é colocada à sua frente;
se insistir em dizer exatamente o que pensa
contra quem se acostumou ao canto safo das sereias;
se persistir no seu dever como algo inegociável
e mantiver a eviterna assiduidade e o compromisso;
se insistir em recusar as prostitutas e os subornos,
e as alianças de teor oportunista, e peitas tais;
se não deixar de ter orgulho do amor-próprio e do caráter
para afogar seus pundonores na piscina dos comprados,
serei obrigado a ter pena
das decisões que levaram
seu pobre barco ao naufrágio.
Esse rapaz lamentável
nunca será nada além
de um mero homem decente.
sábado, 11 de agosto de 2012
Perdurar
Música é prece
Curte-se sem pressa
Livros são portas
Abrem-se aos poucos
Quadros são pistas
Vistas de pontos
Filmes, espectros
de sonhos do peito
Estátuas são partes
pintadas do espaço
Danças são torpentes
Peças são dopantes
A arte é o mais potente
devagar do de repente:
sem rompante,
sem parar,
completamente.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
De faíscas e radares
A matéria de várias cores e matizes
passa despercebida no mundo.
De que adiantam energias intensas
quando as pessoas deixam radares de luto?
É como se todas as perguntas fossem jogadas no lixo
e o filme tivesse a mesma cena por quatro horas.
É como se o Davi já estivesse no mármore,
como se flores fossem robôs dos bem-te-vis.
Não há nada de perfeito num riso sem carne,
riso inflexível de fantoche fútil.
No livro aberto do estar-no-mundo,
é a sede, e não a água, que move os moinhos.
O olho que não adivinha, não vê.
O lábio que não beija, não saboreia.
A palavra que preenche espaços nada revela.
Eu ainda estou esperando o seu convite,
estou aguardando suas asas se abrirem
para o vento que evitam.
Não tema.
As faíscas sobrevivem ao assédio do bom senso,
as verdades pixam dúvidas em muros vigiados,
os bichos falam, os mares bradam,
as sombras ainda podem dançar.
Eu ainda estou esperando o seu convite.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Saúde
Eu ainda posso ver
o menino idealista,
com sangue irrigando a garganta,
neurônios e nervos saltantes,
não muito além deste peito,
não muito longe.
Eu ainda posso ser o que eu quiser.
A lua ilumina a estrada
mesmo quando o sol se esconde,
e a questão não é "quanto tempo?",
a questão é "onde?".
As vontades envelhecem,
as intenções se renovam.
E o corpo apenas responde.
domingo, 15 de julho de 2012
Laços e lastros
A minha jura de amor é um cafuné
Minha loucura de amor é estar presente
Meu amuleto de sorte é sua imagem
Meu compromisso reluz no meu olhar
Minha aliança é um abraço inesquecível
Fidelidade é estar sempre em meu melhor
Perder as horas falando sentimentos
Perder o rumo lembrando e rindo à toa
Meu coração é caixinha de surpresas
de onde salta, ridente e assustadora,
todos os dias, com sede e desespero,
a mesma força que busca por você
Não há promessas nos atos, nos carinhos
Não há cobranças, não há tapeação,
Apenas vínculos, íntimos, profundos
E o testemunho de Deus a eternizar
sexta-feira, 13 de julho de 2012
O norte
Os críticos dizem
que na literatura
só existem dois temas:
amor e morte.
Isso se já se tem
a estrutura.
Isso se já se tem
um norte.
Mas eu vejo outra figura
no foco do holofote
nesse megashow,
que é a dúvida mais forte
e a certeza que segura:
afinal, quem sou?
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