quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Ninharia
Você diz que seu poder é seu dinheiro,
Que é o primeiro a comprar tudo o que quiser,
A ponto de escolher entre o perfeito
E o qualquer.
Você diz que seu consumo não tem freio,
Mas, no fundo, o seu anseio lhe consome
A ponto de que, um dia, tendo tudo,
Você some.
Você diz que eu dou valor a ninharia
E que um dia vou pedir a sua ajuda.
A vida faz da brisa ventania.
Tudo muda.
Você diz que veste e come e bebe e ostenta
O melhor que a vida tem, mas é mentira.
O leite que eu tirei das minhas pedras
Ninguém tira.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Ida
Eu sou um andarilho
de um mundo diferente,
mas não estou sozinho,
cansei de ouvir falar
a voz condescendente
no caminho.
Saí de espessas matas,
descendo com suor
até os lagos brancos
que espelham a paisagem.
Subi colina reta,
passei num salto ao leito
vibrante em sons e vida
de um rio de rubras margens.
Ali foi que, primeiro,
ouvi a voz que guia
meus passos na certeza
da incrível travessia.
Eu sou um peregrino
de um mundo diferente,
mas não estou sozinho,
cansei de ouvir falar
a voz vibrante e meiga
no caminho.
De cima do penhasco,
eu vi um enorme vale
de súbito findando
na base das montanhas.
Rumei para adiante,
seguro e fascinado,
pequeno em frente ao belo
de proporções tamanhas.
A voz me veio clara:
perceba, sinta, e siga,
mas breve como a sorte,
que a estrada é sua amiga.
Eu sou um viajante
de um mundo diferente,
mas não estou sozinho,
cansei de ouvir a voz
pulsante, doce e quente
no caminho.
Pela planície lisa,
andei com confiança,
e até brinquei no seco
de um poço abandonado.
Mas logo à minha frente
topei com o desafio
de novo território
com mapa delicado.
Entrei, e a voz me disse:
- Esqueça tudo o mais.
- Os que foram tão longe
não voltarão iguais.
- Esqueça a segurança
da costumeira paz.
- Quem entra em meus domínios,
não voltará jamais.
Eu sou um viajante
de um mundo diferente
mas não estou sozinho,
eu ouço a voz ridente,
potente e sibilante
no seu ninho.
sábado, 27 de outubro de 2012
Tese tesão
Levantar alguma hipótese
caída.
Desatar os vários textos
de uma linha.
Vincular-se a uma corrente
e abrir as asas.
Cultivar a autoridade
e desfrutá-la.
domingo, 21 de outubro de 2012
Caprichos
Qualquer casa organizada pelo amor de minha mãe
Qualquer filme de cinema visto em boa companhia
Qualquer linha de poema recitada com verdade
Qualquer conversa sem rumo fluindo entre companheiros
Qualquer lágrima enxugada pelos lábios da escolhida
Qualquer momento vivido que permita mais saber
Qualquer erro cometido em nome da lealdade
Qualquer escolha impulsiva nas ditaduras do "certo"
Define precisamente meu requinte de viver
sábado, 13 de outubro de 2012
Amostra
A semente abre
devagarinho;
pétalas incipientes se insinuam
para a doce luz
por alguns segundos.
Até que o meteoro tromba,
massacrante,
matando essa semente
e toda a metade do planeta
em que o espírito se atrevia.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Muitas vezes
Muitas ideias,
poucas palavras,
nenhum proveito.
Muitos caminhos,
poucas passadas,
nenhum percalço.
Muitas pessoas,
poucos amigos,
nenhum banquete.
Muitos fatores,
poucos quereres,
nenhum pecado.
sábado, 6 de outubro de 2012
Tanto
Feche os olhos,
conte até três.
Quando abri-los,
estamos namorando;
Pense em algo
com toda força.
Quando parar,
está bem na nossa frente;
Diga um nome
bem devagar.
Quando acabar,
eu também o pronuncio;
ainda.
conte até três.
Quando abri-los,
estamos namorando;
Pense em algo
com toda força.
Quando parar,
está bem na nossa frente;
Diga um nome
bem devagar.
Quando acabar,
eu também o pronuncio;
ainda.
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