quarta-feira, 7 de abril de 2021

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Teoria quântica da intimidade



Você não põe a mão no fogo por alguém?

Você não põe a mão no fogo porque queima.

Ninguém registra a intimidade alheia.

Uma câmera ligada apontando pra pessoa
Dispara outro comportamento, distinto.

Uma audiência cativa de moloides permissivos
Destrava outra sensibilidade, distante.

Mesmo fantasmas incorporados
E reconstituídos na mente,
Quando nos olham, não nos veem.

As partículas da areia do caráter movem-se se observadas,
E a coerência pode estar em vários lugares ao mesmo tempo,
A depender da onda (onda-partícula) particular.

O feixe de possibilidades,
Aplicado ao espírito humano,
Trará dados mais precisos
Que o julgamento da palavra.

O que há de gente em nós joga dados com o mundo
Por mãos que também não se põem no fogo
Por querer.

sábado, 24 de março de 2018

Micróbios




Os micróbios que sobrevivem
A temperaturas absolutas
Grudados nas lascas rochosas
De impactos siderais que lançam
Pedaços de astros a outros
Planetas e sistemas planetários
Contaminando-os com matéria orgânica

Provavelmente esses micróbios
Nos foram mais decisivos
Que a soma total dos gurus
Em toda a história da Terra

E provavelmente tiveram
Mais cancha neste Universo
E mais a ensinar a respeito

Da eternidade da vida

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Educaçada




Eu cresci

Desmembrado dos nãos

Que depois descobri

Meus irmãos



Eu cresci

Carunchado de sins

Que depois descobri

Meus cupins



Eu cresci

Como fruta no pé

Entre o que descobri


E o que é


sábado, 7 de outubro de 2017

Magister


Todo pedacinho de cristal,

por mais diminuto e escondido,

por mais rachado e ordinário

no sumidouro da trilha,



Se você descobrir o jeito certo de olhar,

a dose precisa de sol ou de luar,

o ângulo exato do trato de fitar,

ele brilha.



Todo aluno meu

é um pedacinho de cristal

de maravilha.

Cheia


Olho a lua cheia

da minha janela.



Olho a minha janela

cheia de lua.



Ou é a lua quem olha esta janela

cheia de mim?



Acho que os olhos meus estão na cheia

por causa da lua da janela.



Acho que olho minha lua

da janela cheia.



Acho que olho, na lua cheia,

uma janela de mim.

O brilho que perdura


As estrelas se apagam,

Mas seu brilho perdura,

E nós nos desintegramos

Antes de poder atingi-las.



Para conhecer as estrelas

É preciso observá-las

No movimento e na luz

Que garatujam no firmamento.



É preciso ganhar as técnicas

E instruções do bem observar.

Depois, entregar-se à solidão

E à diligência, silentes.



E então, precisamos distinguir

Os brilhos das estrelas dos efêmeros,

Que cruzam o alcance das lentes

Mas não grudam no céu.



Depois ainda, interpretar luzes, saber

Quais vozes na diferença de cores

Indicam sangue e DNA

De astros genuínos.



E ainda mais, precisamos

Perseverar na vigilância

Para confirmar o estatuto estelar

Dessas pérolas incandescentes.



E mesmo com todo esse esforço

E disciplina, sempre nos foge

Algo do caráter das estrelas

Pelas frestas de nosso olhar.



Até que se apaguem, portanto,

As estrelas que estudamos,

Devemos garantir que olhares novos

Descrevam com mais capricho suas luzes.



O sentido desta vida, devemo-lo

À causa dessas estrelas,

Paradas na nossa percepção

E velozes nas transformações de seus sinais.



Por tudo isso, sustentarei, ao caminhar

Com pés na areia e olhos nas nuvens

Que as vozes de Dante, Shakespeare, Cervantes,

Camões, Pessoa, Mallarmé,



Os sons de Mozart, de Bach,

As formas e sombras de Goya e Rembrandt

São trilha e aquarela desse cosmos

Que ainda brilhará quando eu me for.