quarta-feira, 16 de maio de 2012
Dívida
Quem pode julgar qual seria meu mérito
De ter nascido onde nasci, pleno em saúde,
Bem de pais e país, num certo e exato momento
De uma manhã de janeiro propícia e acolhedora?
Quem pode saber que mérito é esse
Que me deu as condições de estudo e interesse
Suficientes para que eu criasse os descaminhos
Que me tiraram do óbvio e provocaram meus dons?
Quem pode entender o exato porquê desse mérito
De ter a vida cruzada por almas maravilhosas
Tão frequentemente e de forma tão solícita
Que até pareciam enviadas de uma intenção de proteger?
Quem pode dar a palavra definitiva
Sobre o que fiz ou não fiz para que houvesse
Um trabalho, uma história, uma produção, uma oportunidade,
Algo a dizer para alguém que quer e pode e tenta ouvir?
E quanto a ser amado? Meu Deus, quem pode pensar
O tamanho do prêmio de sentir na escuridão
A mão firme e etérea a me conduzir ao bem
Sem nada pedir a não ser que eu acredite?
E até isso: os acasos. Escolhas que não fiz, de fados a quem servi.
Quem pode julgar o mérito de meus acasos?
Quem pode compreender a alegria que senti no dia
Em que deixei de acreditar em acasos, mas ainda não os dominava no tino?
Talvez meu único e intransferível mérito seja, em tudo isso,
O sentimento de dívida com a Parte Grande do Mundo
Que me coloca pronto a oferecer-me por inteiro
Na tarefa de ousadia que é embelezar meu tempo.
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