Na escuridão das ruas frias do meu bairro,
na madrugada de um retorno de balada,
senti fremente um peso, um crivo do silêncio,
uma fisgada de uma dívida não paga.
Ninguém comigo, mas milhões de pensamentos
falando juntos, convencendo-me do mal,
da permanente inconsequência dos meus atos,
motriz de um choro irreprimível de mulher.
Os pensamentos materializavam formas
no asfalto sujo, na calçada, nas muretas,
nas escrituras sem sentido das equipes,
no aleatório do vagar de cães e ratos,
e essas formas, atraindo-se em essência,
uma só linha, gigantesca, pontilhada,
perfaziam, e essa linha terminava
no solar da residência da menina.
A mão fugiu da campainha, e as testemunhas,
que eram o choro deduzido do silêncio
e o sopro frio da escuridão na vizinhança,
desassistiram o andarilho arrependido,
pois se um alguém-ninguém tocasse a campainha,
e nessa hora o céu sofresse o bem do Sol,
já não seria madrugada e nem amor:
a liberdade impiedosa faltaria.
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