domingo, 6 de outubro de 2013
Lugar exato
Escrever é uma forma
de colocar ordem nas ideias,
dizem meus manuais de redação.
Dançar deve ser uma forma
de colocar ordem nos sentidos.
Cantar deve ser uma forma
de colocar ordem nas emoções.
Isso não é dito
pelos manuais dessas artes.
Viver deve ser uma forma de desordem
complementar ao canto, à dança, à escrita,
servindo de matéria bruta e substrato
à elucidação do sentido.
No momento em que rodo, entoo, aperto a caneta,
muitas coisas simplesmente são.
Por isso, os manuais de viver
não nos dispensam das alegrias.
Amar, por sua vez,
deve ser uma forma de cantar, dançar, escrever,
assoviar e chupar cana ao mesmo tempo.
O amor pega a vida e a coloca em seu lugar exato.
Todas as coisas passam a ter sentido.
Tudo fica afinado,
todo movimento é leve,
toda linha torta escreve certo.
Ideias, sentidos e emoções parecem costurados sem remendos
no tecido da existência atual, pregressa, posterior.
O único problema insolúvel de se amar
e preencher sua vida e sua arte com o amor
é saber depois o que fazer
com os manuais.
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3 comentários:
Muito belo.
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
(Fernando Pessoa)
Simplesmente adorei!
Márcia Maria Baptista Zoldan
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