Digo-lhes baixo, meus amigos: sou um rei.
Eu sou um camuflado imperador,
vagueando em segredo para ouvir
o "bom senso" dos que falam sem parar
na berlinda de bares abarrotados.
Toco as mãos dos que imploram ofertas,
finjo medo dos que furtam-me espécies,
e quando a polícia vem, rapidamente
baixo a guarda, o espírito e a cabeça
e não reajo à batida - embora queira -
em respeito aos que suam taciturnos.
Vasculho cada sarjeta, cada minúsculo
esconderijo dos detritos dos plebeus.
Frequento cada toca, cada cubículo,
não recuso convites de fantasmas.
E à noite, sem carruagem, coxia,
sou recebido pelo tapete vermelho
do respeitoso silêncio, e me arremesso
ao trono de espuma comprado a prazo,
de onde posso comandar tudo o que vi.
Milhões de páginas, milhares de estações,
centenas de canais e de programas
que no mínimo abrangem os sete mares
- e, portanto, também toda a cidade -,
representam universo a meu dispor.
Meu mordomo eletrônico oferece
cardápio inigualável, mas desejo
sempre um mesmo show: o que apresenta
justamente o nomadismo de minha vida
nos becos intangíveis e a insistente
sensação de que ainda não reinei.
Mas quem diria? Um rei que tem
o mundo, acreditem, outra coisa
procura distinta do domínio
daquilo que tão fácil manipula!
É verdade, amigos. Não procuro
a primavera da História,
o bálsamo dos justos,
a compreensão de uma verdade fugidia,
as regalias e os manjares,
ferraris, recepções, insígnias...
Não procuro a salvação da alma
nem do corpo, nem da lavoura arcaica...
Não procuro um país meu, um meu lugar...
Não procuro os montes, os vales, os ares...
Procuro outra Romy Schneider.
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