quarta-feira, 21 de março de 2012

Entrevista


Não perguntarei de tuas vaidades,
que elas saltarão gratuitamente
no abismo do sem-sentido.

Não perguntarei de vantagens obtidas e favores,
que não há diferença entre o que é teu por acaso
e o que é teu por mérito que não tens.

Não perguntarei de teus amores,
que não foste obrigado a amar ou aceitar-se amado por ninguém
e nem mesmo a entender isso de uma vez por todas.

Não perguntarei de tuas maldades,
que foram instrumento de tua parte menor
ainda quando pensaste que te engrandecias.

Não perguntarei de tua autoeducação,
que a sede do saber era indicação de rumo,
e não alargamento do ego.

Não perguntarei de tuas desculpas,
que todos as têm, só diferindo
o engenho dos argumentos e o grau de cinismo.

Não perguntarei de teus prazeres mais íntimos,
porque não estive lá quando eles se deram,
nem tu, nem o mundo, nem a consciência.

Não perguntarei de pequenos e grandes desvios,
que o rio da vida tem tantas curvas
quanto há palavras de perdoar.

Não perguntarei de erros e acertos, crenças e ateísmos,
medos e ousadias, verdades e mentiras, castigos e conquistas,
desentendimentos e saberes, aceites, recusas ou indecisões.

Minha entrevista consistirá de uma única pergunta:
que fizeste da chance que te foi dada
de minorar a dor de teu semelhante?

Nenhum comentário: